segunda-feira, 15 de abril de 2013

CONFERÊNCIA DE CULTURA DE 22 A 27 DE ABRIL ....

Pelo resgate da Cultura de Ponta Grossa ....


Belíssimos depoimento só quem é Artista entende, Parabéns Cláudio Chaves .........
Acho que isto deveria chegar até ele ( Marcelo Rangel):
O porquê da arte em nossa vida?

Simples...para que tiremos uma pausa do concreto, do cinzento, da rotina capitalista, do corre- corre pelo dinheiro e voltemos nossa atenção para a nossa alma.
E esta alma, a minha, a tua, a de todos precisa de uma coisa chamada arte. Por isso ela é tão necessária no mundo, sendo ao mesmo tempo tão abstrata. É a mesma analogia do ar, que você não vê, não pega, não compra, mas também não vive sem ele.
E quem faz a arte é frágil, tem olhos para um outro mundo e o ouvido para onde as canções ainda nem nasceram. Estas pessoas enxergam as cores antes da figura ser concretizada e possuem as palavras prontas antes do fato ter sido consumado. Artistas são necessários e absolutos em seu mundo, pois criam na solidão de suas vidas, mas precisam de todos para demonstrar a sua criação. E sobrevivem com estes sorrisos que ficam na cara das pessoas após verem, lerem, ouvirem ou sentirem suas obras.
Esta é a grande diferença que quero deixar registrada aqui, para o prefeito desta cidade. Precisamos, para cuidar da arte e da cultura, alguém que saiba o que é viver dela, que tenha vivido várias vezes o prazer de se orgulhar dela e de chamá-la de filha (quando várias vezes não é filha, é prima – uma obra por assim dizer, primeira, única, o melhor daquele seu momento de criação). Precisamos de alguém artista, com a cultura que a arte, em todos os seus quadrantes e vertentes proporciona para o ser humano, que é, além de torna-lo humano, torná-lo sensível, pois é um ser que habita rotineiramente o mundo onde as almas choram.

Cláudio Chaves Músico e compositor ...

Depois de um belo depoimento do Mimmo Digiorgio, do Sérgio Gadini, agora Claudio Cláudio Chaves, nos brinda com este depoimento em favor da Cultura da Cidade ....
Marcelo Rangel depois da saída do Presidente da Fundação Cultural atenda o apelo dos Artistas ...... Vamos resgatar a Cultura de Ponta Grossa quem ama a Cidade apoia .....

E agora Pichação é Arte??????


Pichação é arte


por João Wainer*




  Trabalho como repórter-fotográfico em São Paulo e passo 

dia todo rodando pelas ruas dessa gigantesca cidade. O 

banco da frente do carro de reportagem é meu escritório. O 

barulho das buzinas dos motoboys, o cheiro de fumaça e os 

congestionamentos fazem parte da minha rotina.



Faz tempo que comecei a prestar atenção às pichações que 

dominam os muros da cidade. Conheci alguns pichadores e 

descobri que existe uma guerra silenciosa na noite 

paulistana. Milhares de jovens disputam os lugares mais 

altos para marcar seu nome ou o de seu grupo. Eles 

escrevem num alfabeto próprio, desenvolvido com 

linguagem e códigos específicos. Ganha a disputa quem 

pichar mais alto, no lugar com maior visibilidade.



  A cada nova história que escutava eu me interessava mais 

pelo assunto. Passei a reparar nas letras, a tentar decifrar 

cada palavra e mensagem como se fosse um quebra-

cabeça. Aos poucos, aquilo que parecia caótico começou a 

fazer sentido para mim. Percebi que aquilo não era tão feio 

como alardeavam. Na verdade, a suposta feiúra da pichação 

até combinava com a paisagem acinzentada de São Paulo. 

O estilo das letras, a forma, o jeito com que elas são escritas 

são lindos. Adoro ver no alto dos prédios aquelas pichações 

enormes, com letras enfumaçadas. Tento imaginar quem 

fez, como fez e o que passou pela cabeça dele enquanto 

fazia.



  Pouca gente sabe, mas o estilo de letras criado pelos 

pichadores de São Paulo é cultuado na Europa. Existem 

livros na Alemanha que tratam exclusivamente da bela grafia 

das pichações paulistanas, com fotos e textos analíticos 

sobre o assunto. Creio que ao lado dos motoboys, os 

pichadores são o que há de mais representativo e 

genuinamente paulistano.



  Além de bonito, o ato de pichar é um efeito colateral do 

sistema. É a devolução, com ódio, de tudo de ruim que foi 

imposto ao jovem da periferia. Muitos garotos tratados como 

marginais nas delegacias, mesmo quando são vítimas, 

ridicularizados em escolas públicas ruins e obrigados a 

viajar num sistema de transporte de péssima qualidade 

devolvem essa raiva na forma de assaltos, seqüestros e 

crimes. O pichador faz isso de uma maneira pacífica. É o 

jeito que ele encontrou de mostrar ao mundo que existe. Os 

jovens da periferia das grandes cidades precisam aprender 

a canalizar esse ódio para atividades não violentas, como o 

rap, o grafite e até mesmo as pichações – que também 

podem ser consideradas um esporte de ação, tamanha a 

descarga de adrenalina que libera em seus praticantes. Ser 

pichador requer ótimo preparo físico para escalar muros e 

prédios, andar por parapeitos com latas de spray e correndo 

o risco de ser pego pela polícia ou por algum morador 

furioso.



  Não é só por isso que considero artísticas as pichações de 

São Paulo. A definição do que éarte tem algo de relativo e 

abstrato. O que é arte para uns, pode não ser para outros. 

Tudo depende das informações que cada um tem, onde e 

como vive, como cresceu e que tipo de formação 

educacional teve. É verdade que a ação dos pichadores 

desagrada e é condenada pela maioria das pessoas que 

vivem em São Paulo. Mas grandes artistas do último século 

usaram a arte para reverter conceitos estabelecidos e 

provocar mudanças de comportamento. Para isso, 

precisaram incomodar o establishment. Toda arte que se 

preze tem de incomodar, causar no espectador algum tipo 

de reação à qual ele não está acostumado. A pichação é um 

bom exemplo de como cumprir bem este papel.



  Não defendo que cada leitor compre uma lata de spray e 

saia pichando seu nome por aí. Apenas tento entender, livre 

de preconceitos, um fenômeno que é visível nos pontos 

mais movimentados da cidade e que faz parte da vida de 

todos que andam por São Paulo. Apichação é o pano de 

fundo da cidade, um detalhe do cenário que combina com a 

cor do asfalto, o cinza dos prédios, o cheiro da fumaça que 

sai do escapamento dos ônibus, o barulho do motor, da 

buzina dos motoboys, da correria...



* Tem 28 anos e é repórter-fotográfico do jornal Folha de S. 

Paulo desde 1996