quarta-feira, 22 de setembro de 2021

EXPOSIÇÃO PRIMO VERE no CREArte / 15ª SEMANA NACIONAL DE MUSEUS

Hoje 22 de setembro de 2021 abrimos mais uma exposição na Galeria do Espaço Cultural do CREArte - Centro de Referência e Ensino de Arte. 

A Exposição PRIMO VERE  é uma saudação a chegada da Primavera, estação das flores ....

Você pode ser acompanhar nas redes sociais pelo video gravado no local e presencialmente com agendamento 

pelo fone 42 999 62 5952.



ARTISTAS PARTICIPANTES

Ana Paula W.

Celso Parubocz

Daluz Bucholdz

Erinilda Carvalho P.

Emília Schimitt

Suzete Nascimento

 





 
15ª Semana Nacional de Museus
Perdas pequenas ou imensas, algumas causadas por nós mesmos, outras por catástrofes, calamidades, desavenças, lutas, guerras, terremotos, incêndios, enchentes, e por tantas outras epidemias como a Peste Bubônica, Febre Tifoide, Gripe Espanhola, Tuberculose, Febre amarela, Aids, Coronavírus. Enfim, tantas situações em que fatalidades, perseguições e injustiças se instalaram e em que o medo imperou, nebuloso e temporariamente, perturbando os corações e as mentes humanas. Contudo, lembremos, para todos esses infortúnios houve um recomeço! É impossível, ao convivermos com tantas perdas e tantas dores, não refletirmos sobre o impacto que este momento tem, não somente em nosso presente, mas em nossas memórias e em nosso futuro. Diante desta condição incontornável, a 15ª Edição da Primavera dos Museus não poderia deixar de propor um tema sem que refletisse a função dos museus neste momento que, embora não tenha ainda acabado, exige, desde já, a elaboração das perdas que temos sofrido, tratando da guarda do que restou e augurando que, como em tantas outras vezes, o que restou enseja os recomeços. Temos tido, como já dito, é verdade, muitas perdas. Perdas, também verdade, irreparáveis, mas, lembremos, de tudo resta um pouco... O poema Resíduos, de Carlos Drummond de Andrade nos remete a esta condição ambígua que é a história, marcada desde sempre por essa relação avassaladora, mas constitutiva de todos nós, a perda. À perda, de algum modo, estamos todos sujeitos. O poema rememora algo que acabou, mas ao mesmo tempo fala daquilo que restou, de algo que persiste, que sobrevive, de algo que está aí. Diz, é verdade, que algo se perdeu, mas nos diz também que algo ficou e que, portanto, paradoxalmente, algo não acabou. De certo modo, nós somos como museus vivos e como os museus, somos guardiões de fragmentos de algo que embora tenha acabado, ainda está aqui conosco, em nós. “De tudo resta um pouco...” ou "nada está perdido…”, os museus são esses lugares de guarda do que restou. Guarda grandes feitos e guarda mesmo a dor. Museus guardam o que sobrou de momentos grandiosos ou terrivelmente tristes da experiência e da vida humana. O pouco que restou, tantas vezes é dor ou afeto, mas tantas outras vezes é documento. Este momento obriga que os museus sirvam aos indivíduos que, perplexos diante de tantas perdas, pedem acolhimento, pedem um lugar de reflexão e de recomeço. Que os museus se coloquem à serviço dessa acolhida! Os museus, tendo em seus acervos elementos do que restou, memórias de momentos que se acabaram, lembranças de emoções transmutadas na materialidade dos objetos, tornam-se grandes bibliotecas de emoções humanas, grandes repositórios de sentimentos e experiências que a humanidade viveu ao longo da existência! Que os museus reconheçam o seu papel e prestem esse serviço; que devolvam à sociedade neste momento aquilo que guardam na forma de reflexão, de acolhimento, de recomeço. Que o museu traga para a sociedade uma visão, não só de como melhor fazer a travessia, mas a lição de que quando a tempestade passa, a humanidade sempre se levanta. Essa experiência acumulada de várias perplexidades que a humanidade já atravessou está dentro dos museus. Nos museus, as perdas podem se traduzir também pelo desaparecimento ou esquecimento de línguas inteiras, de expressões artísticas, de tecnologias, de profissões, de fatos, de memórias, de muitas vidas. Os museus, como espaços de convergência da experiência humana, sejam elas experiências sociais, históricas ou artísticas, propiciam um reencontro com a história humana, seja de sonho ou insegurança, vitória ou angústia, coragem ou medo, alegria ou desespero, fatalidade ou responsabilidade. Os museus, como repositórios de experiências e emoções podem ser, também, espaços individuais e coletivos de superação, de reinvenção, e, enfim, de catarse. Todos os museus tem condições de elaborar sobre as perdas e apoiar a sociedade nessa travessia de mudanças. Que sejamos afeto! Se a primeira função dos museus seria guardar as perdas e o passado, é também verdade que nos museus a ressignificação do que se guarda tem seu recomeço. Drummond aponta que "de tudo resta um pouco”. De uma totalidade restam fragmentos daquilo que se perdeu, e é a partir desses fragmentos que se reconstitui o passado, se entende presentes e se projetam futuros. Mesmo que não tenha sobrado tudo, tenha sobrado pouco ou mesmo quase nada. Propomos, nesta Primavera de Museus, pensarmos os resíduos, o que restou, como ponto de partida para um recomeço possível, seja a partir do sonhado, ou para um recomeço necessário, partindo dessa premissa, a de que a missão dos Museus é ser guardiões de resíduos da história, mas também espaços de ressignificação dessas e de tantas perdas. Mais do que espaço de acúmulo de momentos, somos e podemos ser espaços de acolhimento e de reflexão, de transmutação da dor e de ressignificação de perdas. Lancemo-nos, pois, em um novo e melhor recomeço!



Chego a chorar, manso de tristeza. 

Depois levanto e de novo recomeço.

 Clarice Lispector