domingo, 11 de maio de 2014

Regina Vater e Maria Nepomuceno são badalados em feira em NY


  • Evento acontece depois de retrospectiva de Lygia Clark e exposição histórica de Geraldo de Barros


Mulher observa obras na feira de arte Frieze
Foto: SPENCER PLATT / AFP
Mulher observa obras na feira de arte Frieze SPENCER PLATT / AFP
NOVA YORK — A generosa retrospectiva de Lygia Clark (1920-1988) que o MoMA abriu nesta sexta-feira serviu para consagrar, também, o interesse do mercado internacional por outros artistas brasileiros de sua geração. A galeria Tierney Gardarin, em Chelsea, acaba de inaugurar uma exposição histórica de Geraldo de Barros (1923-1998), com trabalhos dos anos 1940 aos 1990. E a feira de arte Frieze, que segue até amanhã na cidade, tem como destaque, além de Lygia, a obra de Regina Vater, que, aos 70 anos, ganhou um estande próprio, pelas mãos da galeria paulista Jaqueline Martins.
Estão à mostra apenas trabalhos da década de 1970. Nas fotos da série “Tina América” (1976), feita em um único rolo — e vendida nas primeiras horas de feira —, Regina aparece representando 12 personagens femininos latino-americanos: a guerrilheira, a dona de casa, a mulher fatal, a mãe.
— Não tem nada mais contemporâneo do que esse selfie. É uma obra histórica já considerada pela crítica americana a antecessora de Cindy Sherman — situa Jaqueline Martins, referindo-se à fotógrafa americana cujos autorretratos conceituais transformaram a recepção da fotografia nos museus.
Regina mostra ainda o vídeo “Luxo lixo” (1974), com imagens do lixo de Nova York e uma peça sonora produzida com Hélio Oiticica, e fotos que tirava das casas de seus colegas — na parede do estande, vê-se a bagunça de discos e livros de Vito Aconti (NY, 1976) e os bastidores da criação de Lygia Clark (Paris, 1974), entre máquina de costura, máquina de escrever e esculturas da série “Bichos”.
— Cada vez mais me surpreendo com o interesse genuíno de curadores, instituições, colecionadores e marchands em entender melhor artistas históricos brasileiros cuja trajetória ainda falta contar. Lygia, Cildo Meireles e Hélio Oiticica, eles já entenderam. Os contemporâneos também. Mas demoramos 40 anos para chegar até aqui, e há um buraco com relação a essa geração dos anos 1970, que é fundamental para entendermos a nossa contemporaneidade — diz a galerista.
As obras de Regina Vater à venda na Frieze custam de US$ 7 mil a US$ 20 mil. Já as de Lygia — a mais cara artista brasileira, com um trabalho vendido por R$ 5,3 milhões em leilão no ano passado —, todas na casa do milhão de dólares, ocupam bom espaço do estande da galeria londrina Alison Jacques. Há cinco desenhos neoconcretos, um “Bicho” e um protótipo da mesma série, em madeira e fita crepe.
Desta vez, a Frieze — que acontece em Londres desde 2003 e está em sua terceira edição nova-iorquina — reúne 190 galerias no Randall’s Island Park. Do Brasil, participam ainda A Gentil Carioca, Casa Triângulo, Fortes Vilaça, Mendes Wood e Vermelho. Muitas apostaram em estandes solo, uma tendência que ganha força em meio ao excesso de feiras de arte e artistas expostos nelas.
Cearense exibe ruínas
A Casa Triângulo apresenta uma individual do cearense Yuri Firmeza, com destaque para a série “Projeto Ruína”: a parede principal traz fotos de ruínas de palacetes construídos em Alcântara, no interior do Maranhão, para receber Dom Pedro II — que nunca chegou —, e um vídeo institucional do governo Dilma sobre a preparação dos estádios nas cidades-sede da Copa do Mundo.
— É produção de ruínas na contemporaneidade — diz Firmeza, que vai voltar a Alcântara no fim do mês para fazer o filme que exibirá na Bienal de São Paulo.
O estande da Gentil Carioca é todo dedicado a Maria Nepomuceno, que também tem uma obra na galeria londrina Victoria Miro. Já a Mendes Wood dá ênfase ao capixaba Lucas Arruda, que mostra pinturas, esculturas de cerâmica e um vídeo. Até a gigante Gagosian investe em um único artista, Ed Ruscha, que exibe uma nova série de pinturas com água sanitária.
Um dos grandes sucessos desta Frieze — que acena, como sempre, com uma mostra de trabalhos site-specific, uma repeitável série de palestras e filiais de restaurantes badalados — é o tributo ao Al’s Grand Hotel, originalmente criado por Allen Ruppersberg em Los Angeles, em 1971. O hotel foi fielmente remontado, com dois quartos onde os visitantes da feira são convidados a passar a noite.