sábado, 22 de dezembro de 2012

ARTE BRASILEIRA DÁ LUCRO?????



Lucros inspirados

A arte brasileira dobrou de preço nos últimos cinco anos e deverá manter trajetória de valorização. Saiba como operar nesse mercado.

Por Cláudio GRADILONE
Em 2010, o Brasil era o queridinho dos investidores internacionais. Dois anos depois, essa percepção esmaeceu. Mesmo não sendo considerado hostil para o capital internacional, a capacidade do País para atrair recursos externos diminuiu. Esse fenômeno só não se registrou em alguns mercados muito específicos, e o mais notável é o das obras de arte. Ao contrário do que vem ocorrendo com as ações e mesmo com títulos de renda fixa das empresas, a demanda por obras assinadas por artistas brasileiros vem crescendo de maneira sustentável desde o início da década passada. Esse movimento de valorização não se alterou nem mesmo com a crise financeira de 2008, e nada indica que o fôlego da demanda vá arrefecer no curto prazo. 
77.jpg
Adriana Varejao: artista carioca: preços em disparada e visibilidade
nas principais galerias internacionais
As cifras dos principais artistas brasileiros vivos comprovam, com números, esse movimento. Um bom exemplo é o da carioca Adriana Varejão. Até novembro, Adriana ostentava o recorde de artista brasileira mais valorizada no mundo. Uma de suas telas, Parede com incisões à Fontana II, foi leiloada por R$ 2,7 milhões na Christie’s, de Londres, em fevereiro de 2011. A venda havia desbancado o recorde anterior da também carioca Beatriz Milhazes, cuja tela O mágico foi arrematada por R$ 1,7 milhão, em 2008. No entanto, o recorde de Varejão não chegou a completar dois anos. Em novembro de 2012, Meu limão, de Beatriz, alcançou US$ 2,1 milhões ou R$ 4,3 milhões em um leilão em Nova York.
Não é correto calcular a diferença de preços e afirmar que todos os quadros brasileiros, sem exceção, valem atualmente o dobro do que custavam em 2008. No entanto, a elevação dos preços de duas das principais artistas nacionais no mercado externo mostra que o apetite dos colecionadores vai bem, obrigado. A mostra panorâmica que pretende exibir os 20 anos de carreira de Adriana, a ser inaugurada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro no próximo dia 17 de janeiro, é uma boa prova do status global que a arte nacional alcançou nos últimos anos. Algumas das obras, pertencentes a colecionadores e nunca expostas no País, virão de templos da arte moderna, como o museu Guggenheim, de Nova York, e a galeria Tate, de Londres. 
“A arte brasileira entrou de vez no espectro dos investidores internacionais”, diz a empresária canadense Louise Blouin, fundadora do portal Artinfo, uma plataforma eletrônica de divulgação de informações sobre arte, que acompanha os preços das principais obras em leilões ao redor do mundo. O dados do Artinfo mostram uma valorização consistente da arte brasileira. Tome-se, por exemplo, a pintora paulista Leda Catunda. Em 2008, o preço médio de suas obras vendidas em leilão foi R$ 19.200 (US$ 9.606), cifra que subiu 134% até 2012, para R$ 45.000 (US$ 22.450). “Além dos compradores tradicionais, europeus e americanos, os artistas brasileiros passaram a atrair a atenção dos recém-chegados a esse mercado, os colecionadores da Ásia e do Oriente Médio, sem falar, é claro, dos compradores brasileiros que acessam o mercado internacional”, diz Louise. 
78.jpg
Louise Blouin, empresária canadense, fundadora do site Artinfo: "A arte brasileira está atraindo
a atenção dos colecionadores ao redor do mundo." 
Hora de aproveitar a baixa dos juros, resgatar todo o dinheiro aplicado em fundos de renda fixa e correr para a casa de leilões ou para a galeria mais próxima? Calma. Nem todos os colecionadores que investiram em artistas brasileiros podem comemorar a mesma alta de preços. Segundo os dados da Artinfo, o paulistano Vik Muniz, contemporâneo e colega de formação de Leda Catunda, viu os preços de sua produção recuarem desde a crise. Em 2008, foram vendidas 50 obras de sua autoria, a um preço médio de R$ 110 mil (US$ 54.400). Em 2012, esse valor havia caído para R$ 94 mil (US$ 47.100), uma baixa de 13%. Para garantir a transparência dos preços, a Artinfo considera apenas as vendas em leilões, sem considerar os negócios fechados no silêncio das galerias. 
A tendência é que esse fenômeno se torne cada vez mais evidente. O advogado paulista Pierre Moreau, membro do conselho diretor da Casa do Saber, de São Paulo, afirma que os ativos ligados à arte deverão manter uma trajetória de valorização. Para ele, além do enriquecimento da sociedade brasileira, que aumenta a liquidez de todos os mercados, a arte entrou no radar dos investidores. No entanto, não é possível simplesmente comparar o trabalho de Vik Muniz com as obras de Leda Catunda, como se comparam, por exemplo, ações do Bradesco e do Banco do Brasil. Ao adquirir um quadro, o investidor geralmente leva em conta elementos intangíveis, como o prazer estético de colecionar, avalia Moreau. No entanto, é possível mitigar um pouco as incertezas do mercado com alguns cuidados. 
O primeiro deles deve se dar na hora de escolher o artista. Ao decidir por uma obra, o colecionador garante não só a autenticidade como também a liquidez do investimento se fechar negócio em leilão ou através de uma galeria. A existência de um intermediário pode elevar o preço em relação à compra direta do artista, mas um bom galerista poderá dizer se a obra em questão terá ou não compradores, caso seja preciso passá-la adiante. Outra indicação, diz Moreau, é procurar obras que tenham declarações de autenticidade do próprio artista. 
Conhecidas pelo termo em inglês affidavits, essas declarações mostram não só que o autor reconhece a obra como sua, mas também quem foram seus proprietários anteriores. “Com isso, é possível acompanhar a trajetória de mercado da peça”, diz Moreau. Também é possível saber como as cotações se comportaram nas transações mais recentes e mapear a procedência e o histórico de transferência de propriedade da obra. “Quando se pensa em investir em uma obra de arte, é preciso ter em mente que essa é uma aplicação de longo prazo e sujeita a riscos”, diz Moreau. “No entanto, se o colecionador encarar sua coleção como um investimento e dedicar tempo e estudo, ele poderá obter bons resultados financeiros, além do prazer estético.” 
79.jpg

MATÉRIA DA REVISTA
ISTO É / DINHEIRO Nº 794