quarta-feira, 9 de janeiro de 2013


(GUILHERME AMOROZO) GAZETA DO POVO

A Belas precisa de um teto


Escola de Música e Belas Artes é um dos marcos da

 cultura paranaense, mas há pelo menos 20 anos 

mendiga lugar para se desenvolver como espaço 

criativo

O descaso com a Escola de Música e Belas Artes do 
Paraná (Embap) se tornou um solene exemplo de 
desperdício de capital humano e cultural – infeliz 
legado de nossa miséria. A “Belas”, como é 
chamada, projeta o estado no campo da produção 
artística desde 1948, ano de sua fundação. Modesta 
no aparato, faz o Paraná dialogar com o mundo da 
alta cultura. E, se parecer pouco, é bom lembrar que 
a cultura elaborada faz parte da terceira maior fonte 
de renda do mundo, a indústria do entretenimento.

Mais? Guido Viaro, Theodoro de Bona, Bento 
Mossurunga... Difícil citar um standard da cultura 
local que não tenha cruzado o portão torneado da 
sede histórica, na Rua Emiliano Perneta, para lecionar 
ou para estudar, quando não os dois. Sim, a Belas 
tem tradição, desafiando as embalagens dessa nossa 
era fugaz, líquida e presentificada.

Há argumentos a rodo para colocar a escola entre as 
prioridades educacionais do Paraná. Mas... saliva 
gasta. Contra todas as evidências, a Belas acumula 
pelo menos duas décadas de agonia. Nesse tempo, 
mendigou reparos na sede histórica – a reforma 
meia-sola feita em 1995 não foi capaz de sanar as 
dificuldades estruturais do prédio, nem de botar 
cupins para correr –; sofreu contínuas ameaças de 
fusão com a Faculdade de Artes do Paraná; e 
experimentou os dissabores da vida de retirante. A 
cada vez que o chão da sede histórica treme, a Belas 
sobe no caminhão de mudança.

Ora, por mais brilhantes que sejam seus professores, 
não há qualidade de ensino que resista a tamanha 
instabilidade, ainda mais quando se está sujeito à 
marcha lenta da burocracia. Beira o grotesco. Nos 
anos em que a Belas pedia expansão – para atender 
às novas demandas das linguagens artísticas –, teve 
de se limitar a passar o chapéu, pedindo o mínimo: 
um teto que não desabasse, um piso que não 
afundasse. Um dos capítulos dessa crônica sinistra 
se deu em 1993, quando uma chuva arruinou o forro 
miserável de um edifício provisório, na Rua Trajano 
Reis, para o qual a escola tinha sido recentemente 
transferida. Virou motivo de chacota: jurava-se que a 
sede da Emiliano cairia “em questão de horas”, mas 
o que ruiu foi o puxadinho onde o governo, então, 
desejou asilar a escola, perto do Cemitério Municipal. 
Não tem sido muito diferente nos últimos tempos.

Em meio à falta de afeto oficial, é notável o apreço 
dos alunos pela Belas. Em 20 anos de crise após 
crise, parte dos pouco mais de mil alunos da 
instituição não fica de bico calado. São antológicas as 
manifestações na Rua Emiliano Perneta, as velas 
acesas e as frases espirituosas escritas na fachada – 
“crimes delicados” perto da situação a que gerações 
inteiras estão sujeitas a cada vestibular. Infelizmente, 
os estudantes podem pouco diante da politização da 
escola, no sentido imoral da palavra. Qual outras 
instituições públicas, a exemplo da UFPR, a Embap 
mais de uma vez serviu de moedinha barata nos 
labirintos do poder. De pouco adiantou. Ficou sempre 
na rabeira, só vendo multiplicarem-se seus 
problemas de “saneamento básico”. O Brasil, uma 
pena, tem baixa prática de egressos em instituição 
de ensino. Mas, se cada “ex” da Belas pusesse a 
boca no trombone, o estado que cultivou a fachada 
de “amor à cultura” veria ele o seu teto desabar. São 
muitos os notáveis e famosos que cursaram a Belas 
– de Juarez Machado a Denise Sartori, Eliane Prolik e 
uma safra de paranaenses que brilham em 
orquestras internacionais.

O atual momento é de esperança renovada. A 
diretora Maria José Justino bate nas portas atrás de 
uma sede que mereça esse nome. E a aproximação 
do secretário de Educação Flávio Arns – propondo 
contrapartida da Belas com as escolas estaduais – 
soa como uma esperança. Mas alto lá. Mal não fará 
aos colégios participar de intercâmbio com a mais 
importante instituição artística do estado, desde que 
fique claro que a Embap não é um centro de arte-
educação, mas de criação artística. Não se trata de 
lhe arrumar uma utilidade para que possa existir, o 
que parece ser uma perigosa mensagem subliminar, 
mas de lhe garantir condições para experimentar 
linguagens, atrair pesquisadores e talentos, como lhe 
era de praxe. Esse é o maior contributo que pode dar 
ao ensino.

Seria uma grande notícia se, ao fim de 2013, se 
pudesse noticiar como um dos grandes feitos do ano 
que a Belas ganhou sede espaçosa, bem instalada. E 
que seu prédio histórico foi mantido como marco 
urbano. Não custa sonhar, dizem todos os bordões 
de réveillon. Que viva a Belas!

OMA VEM AO BRASIL À PROCURA DE PROJETOS


OMA - Office for Metropolitan Architecture - OMA (em 

português, "Escritório para Arquitetura Metropolitana") é um

 escritório de arquitetura com sede em Roterdã, fundado 

pelos arquitetos Rem KoolhaasElia ZenghelisMadelon 

Vriesendorp e Zoe Zenghelis, em 1975.

Musee National des Beaux-Arts du Québec, Canadá, Quebec City,                                    

http://oma.eu

Com projetos espalhados por todos os cantos do globo, era de se estranhar que o OMA, escritório capitaneado pelo lendário holandês Rem Koolhaas, ganhador do Prêmio Pritzker do ano 2000, nunca tivesse manifestado nenhum interesse formal pelo Brasil. Era. Dois importantes sócios do OMA estão no país para uma missão inicial de reconhecimento de terreno. Em meio a conversas com possíveis parceiros e uma palestra na Universidade de São Paulo, Shohei Shigematsu, arquiteto diretor do braço americano do escritório, e Victor van der Chijs, chefão administrativo da empresa, nos receberam para a conversa a seguir. E, de antemão, já avisaram: “O Brasil tem uma cultura muito exuberante. Queremos fazer parte disso”.

CASA VOGUE – O que exatamente vocês vieram fazer no Brasil?
Victor van der Chijs – Viemos para conhecer o mercado brasileiro. Estamos visitando lugares, conhecendo pessoas, tentando entender o que acontece aqui hoje, em termos culturais e comerciais.
CV – A ideia de vir partiu do escritório ou vocês receberam um convite?
VC – Nenhum convite. Isso é o que normalmente fazemos. Pesquisamos muito antes de começar qualquer projeto, e isso inclui visitar os lugares em que estamos interessados. Precisamos enxergar o local como um todo.
CV – E já acharam alguma coisa interessante?
Shohei Shigematsu – Tudo o que vi até agora. O Brasil tem muita história em arquitetura, é um dos lugares dos sonhos para se trabalhar para todo arquiteto. Esperamos que isso aconteça em breve.
CV – Que tipo de projeto vocês procuram no Brasil?
SS – Num país do tamanho do Brasil, com tantos eventos para acontecer nos próximos anos, os grandes projetos, públicos, são os que mais nos interessam.
VC – Mas isso não impede que façamos outras coisas, como um prédio residencial, por exemplo.  Se for um projeto com o qual nos sintamos confortáveis, OK. O que não queremos é aterrissar uma nave espacial aqui e ir embora.
CV – Você uma vez disse que, desde que Frank Gehry projetou o Guggenheim de Bilbao, as pessoas tendem a esperar da arquitetura o mesmo efeito que o prédio teve sobre aquela cidade. Que consiga, sozinho, atrair muita gente para lá. Os projetos do OMA buscam esse tipo de efeito?
SS – Acho que nós tentamos, sim, criar prédios atraentes, mas não apenas pela forma. O conteúdo – como o prédio será usado, como se relaciona com a cultura local –, isso é igualmente importante. Nós não contestamos esse tipo de construção icônica, amamos o Guggenheim, inclusive. Mas, para nós, um ícone arquitetônico não pode se resumir apenas à forma.
CV – Nos últimos anos, Koolhaas tem levantado que talvez haja um excesso de construções tombadas em todo o mundo. Num mesmo momento, vocês decidem vir ao Brasil, um país onde a cultura dominante é demolir para construir algo novo por cima. Como vocês lidam com essa questão da preservação?
SS – Hoje em dia, as construções tombadas pela UNESCO ocupam uma área gigantesca [por volta de 4% de toda a superfície construída da Terra, segundo pesquisa do AMO, o braço acadêmico do OMA]. Essas construções são justapostas a outras extremamente novas, criando um desenvolvimento urbano meio contraditório. Acho que o foco talvez não deva se resumir apenas à preservação física, mas também à cultural. E, se a cultura do Brasil ou da China é a de demolir e construir, demolir e construir, talvez continuar a fazer isso seja uma forma de preservação…